Nem sei por onde começar, ainda
nem me acredito que estive à partida do Rali de Portugal – Promoção, foi um
sonho tornado realidade.
Bem, estava em pleno dia laboral
quando um amigo me liga a perguntar se queria ir fazer o Rali de Portugal,
desatei a rir e mandei pra um lado onde
não posso descrever, mas ele repetiu o
convite e disse que estava a falar a sério. Nem queria acreditar mas ele passou
a explicar, tinha um amigo que iria navegar o piloto José Pedro Miranda mas por
razões pessoais não se poderia deslocar ao Algarve para fazer o rali. Depois de
alguns telefonemas, decidiu-se que pelas mais diversas razões seria melhor não
ir um navegador de tão longe. Uma tristeza abateu-se sobre mim, o sonho que de
repente se tinha tornado realidade, passou a uma desilusão tamanha.
Já em casa e depois de adormecer
o meu telefone toca, e com a “moca” de sono, pensei que era o despertador já a
tocar para me levantar para mais um dia de trabalho mas, depois de olhar para o
visor vi um número que não me era conhecido. Do outro lado, uma voz fala, “Sr.
Carvalhosa, sou o José Pedro Miranda e estou a ligar para ver se me pode
ajudar. Como sabe fiquei sem navegador e gostava de saber se você era homem de
me ajudar e vir fazer o rali comigo mas que o problema seria que teria de estar
junto ao estádio do Algarve pelas 9 da manha. Você acha que consegue?”. Depois
de cerca de 2 segundos de muito pensar respondi, “deixe-me só fazer as malas
que faço a viagem durante a noite e se tudo corresse bem de certeza que pela
hora combinada eu la estaria.”.
Depois de banhinho tomado e mala
feita, la arranquei para o Algarve com a companhia do meu “filho”, que também
não gosta nada de rali.
Feitas as 5 horas de viagem, lá
cheguei ao estádio do algarve pelas 5:30 da manha. Puxamos os bancos para trás
e la tentamos dormir um sono mas o ansiedade era tanta que não houve sono que
pegasse. Já pelas 9:00 da manha, o Sr. Miranda chegou ao parque de assistência,
e lá passamos as apresentações, visto que nunca nos tínhamos apresentado
formalmente.
Durante a manha tratamos da
alteração de navegador, trocamos umas palavras pra vermos o que iria ser feito
durante o rali e quais seriam os objetivos do piloto. A resposta do Pedro foi
muito frontal “oh Nuno, vim cá pra me divertir, por isso não te chateies. Quero
é que tu também te divirtas e que gozes o momento”. E foi com esse moral que
chegamos ao primeiro CH e demos inicio ao meu sonho. Com uma ligação de alguns
kms, fui-me ambientando ao Subaru (primeiro carro 4*4 que fiz um rali) e fui-me
apercebendo que não era parecido com nada do que já tinha andando. “Que
máquina…”
Já no inicio da classificativa de
Silves, o nervoso miudinho foi crescendo visto que, não tinha notas e ele iria
ter de fazer tudo “à vista” e claro eu não sabia a qualidade de pilotagem dele.
5,4,3,2,1 e ai vamos nós, serra
acima, serra abaixo, vira a direita, vira a esquerda e eu ali, apenas a gozar o
momento e a apreciar o público que se estendia pela classificativa. O Subaru
parecia que andava em pleno asfalto, tal era a qualidade das suspensões e de
tudo o resto. Estava completamente abismado com tudo que se passava…. Acabada a
classificativa de Silves, tive que dar os parabéns ao Pedro porque, apesar de
não termos um bom tempo, gostei bastante da condução dele e ainda pra mais sem
notas…
Durante a ligação para Ourique la
fomos falando e rindo daquilo que tínhamos feito e mesmo gozando connosco pela
falta de notas.
A partida para Ourique, e em tom
de brincadeira diz o Pedro “ vá agora venham dai essas notas que agora vamos
atacar”, e claro, soltei uma gargalhada. 5, 4, 3, 2, 1 e vamos nós outra vez,
serra acima, serra abaixo, um gancho aqui, um gancho ali e eu a cumprir a minha
função em pleno, a curtir aquele momento porque não sei se algum dia o irei
repetir. Quando menos esperava lá chegamos nós ao final de PEC, com um tempo
normal para que ia “ à vistinha”.
Mais uma ligação, esta a caminho
de Almodôvar e nessa ligação, puxei de um caderno que estava no tablier, e nele
estavam as notas dessa PEC, com cerca de 3 ou 4 anos e tiradas por outro
navegador. Lá fui tirando duvidas acerca do que estava escrito e tentando
perceber as abreviaturas la inscritas. Pensei para mim, “vamos la fazer uma
classificativa pelo menos a fazer o trabalho que o navegador faz”.
Quando o relógio chega a 0,
começo eu a ditar notas, foram vinte kms, mais coisa menos coisa, a ler algo
escrito com abreviaturas e letra diferente da minha, foi uma batalha constante.
Quando menos espero as notas acabaram, e com isso a classificativa também e
pensei para mim “não correu mal, não me enganei, tive uns atrasos a tentar
perceber a letra mas nada demais”. O Pedro, depois de sairmos do CH, estendeu a
mão para me cumprimentar e disse “parabéns, não estava a espera que te
aguentasses com essas notas. Foste muito certinho, e peço-te desculpa pelo tempo que fizemos. As
notas estavam todas la e certinhas mas eu ia quase sempre com o pe atras visto
e que não sabia se elas ainda coincidiam”. Estas palavras ditas por alguém que
faz corridas à mais de 25 anos, para mim foi como se tivéssemos ganho o
rali. Estava realmente de rastos tal foi
o esforço físico exigido.
Depois de uma ligação de cerca de
60kms chegamos ao estádio com o sentido de dever cumprido, e um sonho
realizado. Metemos o carro em parque fechado e a vontade de chorar apareceu,
tal era a emoção de ter feito um rali que nunca na vida esperaria fazer.
Sei que não fui por mérito próprio mas o que
interessa é que fui. Tenho de agradecer a muita gente e espero que me lembre de
todos, ao meu amigo que se lembrou de mim e me ligou, ao Pedro por me ter
deixado ir ao lado dele num rali desta envergadura, a todos que durante o dia
me foram dando palavras de coragem, aos Sheila´s por me darem dormida, a minha
família pela compreensão de, de repente ir “as escuras” pro Algarve, aos amigos
que se ofereceram para me darem as notas que tinham, João Aguiar e Júlio Sousa,
resumindo, sem todos aqueles que me apoiaram nesta “aventura de uma vida” nada
disto teria sido possível. OBRIGADO.
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